A maternidade, frequentemente associada ao cuidado, ao amor e à entrega, também carrega em si uma dimensão profunda de resistência e transformação. Ser mãe, em uma sociedade que impõe normas rígidas, desigualdades estruturais e silenciamentos históricos às mulheres, é um ato político. É por meio da maternidade que muitas mulheres encontram uma nova forma de enxergar o mundo, questionar sistemas e transformar realidades – suas e de seus filhos.
A maternidade além do instinto: uma escolha consciente em meio à opressão
Ser mãe não é apenas uma condição biológica, mas uma construção social e cultural. Ao optar pela maternidade – ou ao ser empurrada para ela –, a mulher entra em um campo de forças que envolve o Estado, o sistema de saúde, o mercado de trabalho e as estruturas familiares. Questionar a romantização da maternidade, denunciar a sobrecarga, a ausência de políticas públicas de apoio e a invisibilidade das mães solos, por exemplo, é se posicionar politicamente.
Voz: a maternidade como despertar de consciência
Para muitas mulheres, a chegada de um filho é um ponto de virada. É nesse momento que percebem com mais intensidade o machismo estrutural, a violência obstétrica, a desigualdade no trabalho doméstico e a negligência institucional. A partir dessa experiência, surge a necessidade de se expressar, de se fazer ouvir, de reivindicar direitos para si e para a criança. Mães ativistas, mães que lutam por educação de qualidade, por saúde, por moradia, por alimentação adequada. Mães que não se calam.
Luta: entre a sobrevivência e a resistência
A maternidade negra, periférica e indígena, por exemplo, é marcada por desafios ainda mais profundos. O ato de proteger e educar um filho em contextos de vulnerabilidade social é uma batalha diária. Mães que perdem seus filhos para a violência do Estado, que enfrentam a fome, o racismo e o abandono institucional, transformam a dor em luta. Essas mulheres ocupam espaços públicos, organizam coletivos, denunciam injustiças e pressionam por mudanças. São líderes, guerreiras, guardiãs da esperança.
Transformação: criar um futuro diferente
Criar uma criança é também criar um novo mundo. Cada ensinamento sobre empatia, respeito, equidade e justiça é uma semente plantada para um amanhã mais consciente. Mães que educam com base na liberdade, na não violência e no pensamento crítico estão formando cidadãos transformadores. A maternidade pode ser uma ponte entre o mundo que temos e o mundo que queremos construir.
O que a sociedade precisa entender
Reconhecer a maternidade como ato político é reconhecer o poder das mulheres. É entender que cuidar também é transformar, que amamentar também é resistir, que educar também é revolucionar. É garantir políticas públicas que apoiem essas mulheres em sua luta: licenças adequadas, creches acessíveis, assistência médica digna, proteção contra a violência e valorização do trabalho materno.
A maternidade pode ser invisibilizada, romantizada ou instrumentalizada, mas também pode ser um grito. Um grito por justiça, por igualdade, por liberdade. Quando uma mãe se levanta, ela não está sozinha: carrega consigo a potência de uma sociedade inteira que pode – e precisa – ser diferente. Nesse sentido, ser mãe é, sim, um ato político. É ter voz. É lutar. É transformar.